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Oficialmente sou o irmão mais velho!

Quando a família aumenta, a família muda. A chegada de um novo membro familiar  irá obrigar, nos primeiros tempos, a uma série de cuidados constantes,  com o bebé, com um novo alguém, com um temperamento diferente de todos os outros membros da família. Para além disso, esta mudança irá obrigar o irmão, ou os irmãos mais velhos, a adaptarem-se à nova realidade.

A pergunta que mais frequentemente se coloca, sobre o irmão mais velho é: “Como é que ele está a lidar com o bebé?”.

As respostas variam, mas, na maior parte das vezes, diz-se que “está com ciúmes” ou “anda a querer chamar a atenção”. Como este tipo de sentimentos e comportamentos, podem parecer desadequados aos pais, muitas vezes, a resposta que é dada à criança que os manifesta, é também desajustada.

Este desajuste poder revelar falta de sintonia com os sentimentos da criança. A ela se exige que, de um momento para o outro, se passe a comportar como uma pessoa crescida, que passe a assumir responsabilidades que não estão ao seu alcance, que reprima os seus sentimentos.

Talvez seja mais fácil, se tentarmos compreender, o que pode pensar e sentir o nosso pequeno (agora mais velho), irmão da família.

Imaginemos que, um dia, o nosso parceiro nos diz: “A partir de agora, vou arranjar uma nova pessoa para além de ti. Por isso, vais ter que te habituar a partilhar-me com esta nova pessoa (de quem eu também gosto muito ). Tenho a certeza que vais gostar desta pessoa, que vão ser amigas”.

 Hum... a sério?

Pensemos também noutros factos, relativamente ao novo membro da família:

  • O bebé é pequeno, completamente dependente e não vai poder brincar logo, com os irmãos;
  • Os pais vão precisar de dar muita atenção a este novo elemento da família;
  • Os pais continuam a gostar muito dos filhos que já têm , apesar de agora, já não estarem tão disponíveis para eles, de não lhes darem a mesma atenção, de não brincarem tanto com eles. A partir de agora é preciso partilhar tudo... porque sim!

Como reacção àquilo que sente, é muito comum a criança mais velha manifestar comportamentos agressivos ou regredir nalgumas áreas.

O que será que está por detrás desses comportamentos? O que será que a criança mais velha está a sentir, que provoca estas reacções (apertões, choro, birras, regressões, chamadas de atenção...)?

Em primeiro lugar, pode revelar que está com dificuldade em partilhar o seu pai, a sua mãe, os seus brinquedos.... Sim, porque até agora era tudo só dele, e de repente, sem preparação ou aviso prévio, tem que aceitar que, afinal não é proprietário exclusivo das suas pessoas e dos bens. Para além disso, também tem que partilhar o tempo e a atenção dos pais. Esta partilha é, ainda mais difícil. Falta de tempo e atenção dos pais, podem significar que está sobre ameaça. Será que ainda gostam dele? Será que, se ele precisar, vão estar por perto? Perante uma catástrofe, quem é que salvam – ao bebé, ou a ele ?” Ou seja, a criança por se sentir ameaçada, fica insegura, com medo. Assim, perante tão fortes sentimentos, manifestam-se algumas acções...

Se os pais não derem atenção às causas por detrás das acções da criança, provavelmente irão adaptar uma resposta exclusiva aquele momento – “Não chores, não apertes, já não és bebé...”. Mas se os pais, entenderem o que poderá estar a sentir a criança mais velha, podem adoptar uma postura mais próxima, que a ajuda adaptar- se à nova realidade e a voltar a sentir-se segura.

 

 

Plano de Acção para a criança mais velha:

Compreender o que a criança mais velha está a expressar, nomear o que a criança está a sentir, ajuda-a a ultrapassar os seus sentimentos dolorosos. Sentir ciúmes do irmão/irmã e querer ter os pais só para si, é natural. O medo de ser rejeitada ou não ser mais amada é uma preocupação valida, por isso não deve ser negada (“Não digas isso!!”). Nunca se deve negar ou argumentar os sentimentos de ninguém. Se a criança expressa frases como “podes devolver o bebé” ou “não gosto do bebé”, etc., deve-se ouvir e devolver-lhe a segurança que ela procura “gostavas que o teu irmão não estivesse aqui e queres que a mãe/pai só para ti” ou “gostavas que a mãe tivesse contigo agora e não com o bebé”. Depois pode-se devolver-lhe a segurança “a mãe gosta muito de ti e também gosta muito do bebé. Quero muito estar contigo também. Mal possa, vou ter contigo”.

Não repetir frases como “tu já és grande, já não tens idade para essas birras” – A sério? Grande?! Se é criança, então é porque não é adulta! Se a criança está muito chorona, muito birrenta, pode significar que está a sofrer com o que perdeu – a exclusividade dos pais. Precisa de tempo para se adaptar a esta nova realidade. A reacção dos adultos deve ser de proximidade, em vez de afastamento.

Se a criança começa a falar “à bebé”, se volta a querer a chucha, se quer mais colo... pode significar que pensa que “para que os meus pais gostem de mim, devo ser bebé”. Se a dúvida é o amor dos pais, então em vez de negar esse comportamento “não sejas bebé”, pode-se, responder a esse comportamento: dar colo, atenção, abraços, beijinhos e segurança “gosto tanto de ti”.

Ajudar a criança a adaptar-se e a envolver-se com o bebé. Os pais podem pedir a colaboração da criança para pequenas tarefas com o bebé e ir criando uma ligação entre os dois irmãos. Através das brincadeiras, podem ir traduzindo as reacções do bebé “olha como ele se ri das tuas caras!”, “o bebé gosta muito dessas festinhas que tu dás”.

Tempo exclusivo com cada filho. Apesar de poder parecer impraticável, os benefícios de os pais se envolverem exclusivamente com cada criança (nem que sejam 10 minutos por dia), são enormes. Brincar com os filhos, é uma porta de entrada para o seu mundo. Quanto mais os pais entram no mundo dos filhos, melhor os compreendem, melhor se relacionam e melhor os amparam.

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