Se tem um filho pequeno em casa, de certeza que já se apercebeu de que este filho não pensa duas vezes antes de agir ou reagir. Incrível seria que, no calor de um momento de maior tensão, fosse capaz de dizer que uma parte da sua cabeça tem uma vontade incontrolável de gritar, ao mesmo tempo que o seu outro lado percebe como seria bem melhor falar com calma. Só que isso não acontece: os mais novos são movidos por impulsos, emoções e instintos, quase como carros velozes, sem travões ou sistemas de direção demasiado complexos.
Os comportamentos impulsivos fazem parte do desenvolvimento natural de uma criança e começam a atenuar-se entre os 5 e os 7 anos. Nos primeiros anos de vida, as crianças apenas são capazes de viver uma coisa de cada vez e, por isso, incapazes de pensar antecipadamente ou até conseguir prever “vou sentir isto, mas vou fazer aquilo”. Mesmo que até tenham prometido várias vezes que não vão voltar a comportar-se ou a reagir daquela maneira.
É importante saber porque é que isto acontece. O amadurecimento do córtex pré-frontal, a parte do cérebro responsável pelo controle dos impulsos, tem início por volta dos quatro anos. Mas este início de desenvolvimento cerebral ainda tem um percurso grande a fazer até atingir a sua maturidade e capacidade plenas. À medida que o cérebro se desenvolve e se integra, a criança começará a ser capaz de pensar em duas coisas em simultâneo: as suas ações e as consequências. Por essa altura, conseguem guardar um segredo, misturar sentimentos e até mesmo entender os trocadilhos nas piadas. Quem sabe então, poderá ouvir algum pequeno dizer: “desculpa, tentei não gritar, mas a minha garganta não aguentou mais”.
Será que crianças pequenas e consequências são compatíveis?
Basear a educação de uma criança pequena em consequências tem pouco efeito na mudança dos seus comportamentos e, na verdade, pode trazer mais dificuldade às relações entre pais e filhos. Perceber que a falta de controlo não é intencional, mas uma consequência do desenvolvimento (uma vez que o cérebro ainda não se desenvolveu o suficiente), é essencial para lidar com esta fase do crescimento.
As crianças pequenas não tem capacidade de controlo de impulsos, não pensam duas vezes e estão focadas no momento presente e não nas consequências das suas ações. Talvez assim se torne mais fácil compreender porque é que não é eficaz aplicar consequências a comportamentos inadequados dos mais pequenos. Não são as consequências, nem as estratégias, que ensinam as crianças a serem maduras.
A maturidade acontece espontaneamente (a não ser que haja algum impedimento). Por um lado, temos então esta explicação mais biológica e, por outro lado, a perceção de que as consequências podem mesmo ser negativas e pouco produtivas para um desenvolvimento saudável e completo. Se pensarmos no recurso às consequências de uma forma estratégica — quando se porta mal, deixa de ter acesso ao que mais gosta ou fica de castigo, por exemplo —, o efeito direto pode ser o oposto do que se pretende e potenciar ainda mais raiva ou mais comportamentos desafiadores e de oposição.
Mas então, como é que os pais conseguem ajudar os filhos pequenos a lidar com os impulsos que surgem de repente como um furacão? Apresentando caminhos alternativos: “assim não, mas assim sim”, “não grites, pede baixinho”. Maneiras diferentes que os ajudem a lidar com o que sentem nesse momento e que mostram o impacto que aquele comportamento tem sobre os outros à sua volta ou sobre o mundo. Propor “porque é que não fazes isto em vez daquilo”, embora possa não ter efeitos imediatos uma vez que a criança ainda não atingiu essa maturidade, vai semeando formas mais adequadas de reagir.
As crianças seguem os adultos de referência, aqueles a quem são apegados e que cuidam delas, e esse relacionamento deve também ser capaz de reconhecer a necessidade de se ir direcionando o seu comportamento de forma a que este seja o mais adequado possível. Às vezes, é preciso, também, ajudar os filhos a conter os impulsos que ainda não dominam. Ser o cérebro que, na verdade, ainda não têm.
São estas rotas novas que os pais vão oferecendo, estes exemplos de contenção que os pais vão ajudando a criar, que se vão alicerçando de tal forma que, à medida que a maturidade chega, os filhos se tornam capazes de replicar. Assim, fica a certeza de que, mais tarde ou mais cedo, as crianças recorrerão a essa bagagem de orientações concretas, adequadas e consistentes que os adultos foram sendo capazes de lhes transmitir ao longo do seu crescimento.