Nem sempre é fácil perceber porque é que uma criança testa os limites. Porque razão aquele filho, que é tão amoroso, acerta com um brinquedo na mãe, mesmo no segundo em que a mãe acaba de lhe pedir para não o fazer? Ou quando é hora de acabar a brincadeira, atira tudo para o chão? Porque é que, de repente, parece que “virou o bico ao prego” e temos a sensação de que toda a família está a passar por uma grande tempestade? Os filhos pequenos são peritos em comportamento carregados de emoção, que deixam os pais perdidos e sem saber como reagir.
Além de sensíveis, intensamente emocionais e com dificuldade em controlar impulsos, as crianças pequenas têm também formas invulgares de expressar os sentimentos e as suas necessidades. Ainda que pareça difícil, é muito importante que os pais não assumam estes momentos como um problema específico do seu filho. A falta de capacidade de controlo das crianças pequenas não é um problema pessoal, está relacionada sim com o desenvolvimento: de uma forma muito simples, os comportamentos turbulentos resultam da imaturidade do córtex pré-frontal que, por sua vez, impossibilita uma melhor gestão de comportamentos nesta fase do crescimento.
Aprender a governar as emoções é um processo que acontece com a maturidade e desenvolvimento cerebral, mas também com a proximidade e a ajuda dos pais.
Assim, perante o desafio da expressão destes novos comportamentos, vale sempre a pena os pais perceberem as suas causas mais frequentes:
1. Socorro: tenho fome, estou com sono!
Quando um filho pequeno faz uma birra, pensar nas necessidades mais básicas não costuma ser o primeiro pensamento dos pais. A verdade é que a fome e o sono são, muito frequentemente, a principal causa de birras muito sonoras!
As crianças pequenas não conseguem identificar o próprio cansaço ou perceber que têm fome. Quase parecem estar programadas para aguentar até ao limite! Por isso, às vezes, as necessidades do corpo tornam-se tão urgentes que se sobrepõem ao raciocínio: comportamentos mais agitados são, na verdade, um pedido de ajuda para suprir o que lhes faz mesmo falta nesse momento. Em vez de pensarmos “porque é que está a fazer esta birra?”, mais vale “está cheio de fome (ou cheio de sono)” e por isso temos que agir em conformidade.
2. Preciso de mais clareza na comunicação
Perder a paciência, explicar demasiado e até falar demais sobre comportamentos desafiantes pode ter um efeito contrário ao desejado. Às vezes, pode-se correr o risco de que aquela atitude se transforme na história e problema daquele filho, quando, na verdade, é apenas um ato impulsivo e momentâneo que faz parte da sua experiência de crescimento. Ao testar limites, as crianças pequenas estão a fazer apenas o que lhes compete: descobrir qual é o tipo de liderança dos pais, a perceber e clarificar as expectativas e as regras de casa, a aprender a gerir o seu próprio poder. Assim, compete aos pais responder de uma forma calma, mas precisa, demonstrando segurança, em vez de indecisão, perante aquele comportamento, sem baralharem a comunicação, dizendo uma coisa, mas fazendo outra.
3. Tenho sentimentos grandes!
As crianças podem ser muito persistentes a testar limites quando precisam de libertar emoções intensas. Quando estão mais irritadas ou stressadas, por exemplo, é comum terem atitudes mais instáveis. É que embora sejam extremamente emocionais, as crianças ainda não sabem verbalizar o que sentem.
Ajudar, dizendo por exemplo “estás mesmo zangado!”, é o suficiente para desbloquear a libertação total desta energia intensa, ao mesmo tempo que é uma ajuda preciosa para fazerem a associação entre aquilo que sentem e a palavra que o define. Orienta a criança para nomear o que está a sentir e a dar o assunto por resolvido, em vez de apenas reagir.
A conversa sobre este comportamento, pode-se guardar para mais tarde. Enquanto a tempestade durar, é mais importante mitigar a atitude e transferir a atenção para a emoção que a provocou.
4. Estou a precisar de estar contigo
Quando as crianças recebem menos atenção ou se sentem menos acolhidas, podem insistir nestas atitudes para garantir que os pais finalmente olham para elas.
Prestar e dar atenção, oferecer/promover o contacto físico (colo, abraços, beijinhos), estar verdadeiramente presente (offline) e brincar livremente com os pais ajudam a aliviar a angústia da separação e a fazer da presença um verdadeiro antídoto anti-stress!